Data limite para propostas da conferência prorrogada até 22 de março de 2023

Convite à participação

Circo e Seus Outros IV
Circo, solidariedade, diferença, mobilidade Bogotá,
Colômbia, Fev. 28 - Mar. 3, 2024

Circo e seus Outros (CaiO) é uma iniciativa de pesquisa internacional e interdisciplinar que explora as maneiras pelas quais os artistas e empresas de circo contemporâneos se relacionam com o conceito de diferença em sua prática. Desde seu lançamento, com um dia de estudo em 2014, a iniciativa gerou três conferências internacionais (Montréal, 2016; Praga, 2018; Davis, 2021) e uma edição dupla da revista Performance Matters (Vol 4., nos. 1-2, 2018). Esta iniciativa, que continua a florescer ao longo do caminho, tornou-se um movimento, onde as motivações que unem acadêmicos e artistas-pesquisadores vão além de seus próprios interesses de pesquisa. Os participantes partilham o desejo de continuar a consagrar os estudos circenses como disciplina acadêmica e, ao mesmo tempo, resistir à sua plena institucionalização, promovendo uma investigação reflexiva e contínua que permita questionar as suas próprias inclusões e exclusões no circo.

A quarta conferência Circo e seus Outros será realizada em Bogotá, Colômbia, de 28 de fevereiro a 3 de março de 2024, e será a primeira conferência internacional de Estudos Circenses já realizada na Colômbia. Como tal, a conferência pretende catalisar o desenvolvimento dos Estudos Circenses como disciplina acadêmica na Colômbia e na região da América Latina. De forma semelhante a cada uma de nossas conferências anteriores, nosso encontro acontecerá ao lado de um festival artístico no novo Centro Nacional de Artes. Este festival, co-curado pelo comitê acadêmico e criativo do CaiO, Artemotion e o Centro Nacional de Artes, inclui diversas atrações como espetáculos de sala e rua até acrobacias rituais como modo de celebração e reconhecimento da multiplicidade e diferenças que habitam o circo na atualidade. Estas atividades combinadas explorarão a posição da Colômbia como um ponto de encontro entre a América do Norte e a América do Sul, e um local chave de movimentos de pessoas e ideias dentro e fora da América Latina. Nossos planos atuais visam uma conferência totalmente presencial, que será gratuita para todos. 

Neste contexto, o CaiO IV propõe um foco em temas de movimentos sociais, mobilidades e "a diferença que a diferença faz" (Gaztambide-Fernández 42). Rubén Gaztambide-Fernández, Professor Instituto de Estudos em Educação de Ontário (Universidade de Toronto), que participará como orador principal no CaiO 2024, descreve a era atual das mobilizações globais como "nem espontânea nem natural, mas como o resultado de dinâmicas complexas de colonização; um momento que nos confronta tanto com o desafio quanto com a oportunidade de repensar ativamente os modos de interação humana" (42). Ele explora a solidariedade (um conceito sub-teorizado, em sua opinião) dentro do contexto do início do século 21, no qual processos de descolonização, anti-racismo e ressurgimento indígena se desdobram ao lado de emergências climáticas, populismo de extrema-direita e capitalismo neoliberal sempre em ascensão. Reconsiderar a solidariedade em relação à desolonização nos permite desafiar categorias de humano/póshumano e Global Sul/Global Norte, e lógicas de inclusão e exclusão: "Trata-se de imaginar relações humanas que se baseiam na relação entre diferença e interdependência, ao invés de semelhança e um cálculo racional dos interesses próprios" (49) 

Ampliamos o apelo da Gaztambide-Fernández por uma pedagogia de solidariedade para uma exploração de práticas criativas de solidariedade, com foco no trabalho de artistas de circo, empresas e teóricos. Que possibilidades surgem quando nos reunimos para fazer e estudar o circo comprometidos com um processo contínuo e reflexivo de decolonização que reconhece a diferença como um princípio de união? 

O enfoque decolonial que propomos transcende uma corrente de pensamento que aborda de maneira crítica as dinâmicas de poder herdadas da época colonial, para abraçar o ativismo e performances e práticas sociais em distintos tempos e lugares que demonstram as múltiplas formas de existir no mundo. Defendemos e apelamos para um entendimento da decolonalidade além das divisões geográficas e de um tempo e espaço específicos, nos unindo ao artista visual, estudioso e ativista Nicholas Mirzoeff (2020), que explica a decolonalidade em termos de "desvitalização", ou seja, de "desfazer os processos de classificação, separação e estetização formados sob o colonialismo dos colonizadores" (13). Segundo Mirzoeff, a desvitalização requer "decolonizar formações passadas e presentes", reinvidicando a possibilidade de outra história, ou melhor, "a história delas, trans-histórias e/ou nossas histórias" (13, 14).

Nosso convite é para reimaginar a existência individual e coletiva e desafiar o patriarcado, o capitalismo e o estado nacional como formas naturais de organização social. Como reconfigurar nosso mundo a partir de perspectivas diversas e interligadas? Ao usarmos os termos Norte e ao Sul globais, seguimos a abordagem de Connell  não para nos referirmos a categorias delimitadas de Estados e sociedades, mas para dar ênfase em “relações de autoridade, exclusão e inclusão, hegemonia, parcerias, patrocínios ou apropriação" entre teorias, práticas e estética produzidas nas grandes metrópoles e nas chamadas periferia mundial, incluindo os tempos passados e a modernidade (2007 ix).

O tema da conferência atende também a posição atual da Colômbia como um lugar de deslocamentos internos e externos, pois estima-se que 1,7 milhões de refugiados da Venezuela se estabeleceram no país desde 2016 (Migración Colombia, Turkewitcz); e a rota pela floresta de Darién transformou a fronteira norte da Colômbia com o Panamá em uma zona perigosa e altamente utilizada por migrantes que se dirigem para os Estados Unidos (ACAPS). 

A situação da Colômbia reflete o estágio atual da globalização em que os deslocamentos estão cada vez mais normalizados e os conceitos de local e global estão mudando, mas no qual as relações desiguais de poder entre Norte e Sul, maioria e minoria globais, antigas potências coloniais e povos indígenas persistem. Como essas dinâmicas se manifestam nas práticas, redes e estudos circenses; e de forma particular, no circo latino-americano, onde a suposta divisão entre circo profissional e circo social (politicamente comprometido, voltado para a justiça social) se revela como uma construção ocidental (Sorzano 2018)? Como isso acontece em uma região onde as mobilizações artísticas estão ajudando a transformar e reconfigurar o poder político-social (Pinochet-Cobos 2021; Sorzano 2022)? Como as práticas e performances circenses oferecem formas alternativas de reconfigurar e reimaginar as relações humanas e ambientais?

Assim, fazemos o convite para o envio e apresentação de propostas de trabalhos e/ou painéis de pesquisa que abordem essas questões de circo, solidariedade, diferença e/ou mobilidade, fazendo uma chamada especial para propostas na Colômbia e na América Latina. Além disso, abrimos para a apresentação de propostas de trabalhos/painéis que abordem outras questões de diferença e alteridade no contexto do circo tradicional, novo e contemporâneo de todo o Norte e Sul Global. Também convidamos explicitamente artistas e profissionais que abordam essas questões em seu trabalho, prática e/ou pesquisa-criação para apresentar trabalhos em vários formatos (o local da conferência inclui espaços para performances, exibições e workshops).

Alguns dos tópicos de discussão incluem, mas não são exclusivos e estamos abertos a mais opções:

  • Explorações humanas/pós-humanas no circo

  • Decolonialidade em encenações, práticas e corpos circenses

  • Corpos e mobilidade do circo em tempos de pós-pandemia e metaverso

  • Histórias de circo e deslocamento

  • O circo em lugares e tempos de conflito

  • Corpos diversos e interculturais no circo: interações individuais e coletivas

  • Modos de organização social e econômica no circo

  • Relações homem-animal-ambiente através do tempo e movimentos circenses

  • Circo, ativismo, movimentos sociais e protesto: mudanças climáticas, Black Lives Matters, migração, crises políticas, mobilizações feministas e queer

  • Histórias delas//trans-histórias/nossa história circense

Convidamos propostas de 300 a 400 palavras para apresentações de 20 minutos ou painéis temáticos de uma hora. Estes podem ser enviados em inglês, espanhol ou português antes da 15 março 2023 para circusanditsothers@gmail.com. Por favor, indique claramente em sua proposta se você planeja apresentar um trabalho formal ou se, como praticante/criador/pesquisador, deseja se envolver em uma prática híbrida/palestra/pesquisa/exploração da criação. As apresentações ao vivo serão principalmente em inglês e espanhol. Português também é bem-vindo. Entraremos em contato com quem quiser apresentar em português para ver as possibilidades de tradução.

Esperamos responder aos candidatos e canditadas até o início de abril 2023. Estamos solicitando apoio financeiro para a conferência, mas lamentamos não poder prometer bolsas de estudo ou viagens no momento.

Circo e seus outros IV Comitê Acadêmico e Criativo:
Charles Batson, Union College, NY, EUA; Karen Fricker, Brock University, Ontário, Canadá; Aastha Gandhi, Pesquisador Independente, Nova Deli, Índia; Julieta Infantino, Universidade de Buenos Aires, Argentina; e Olga Sorzano, Artemotion, Colômbia.

Parceiros e aliados CaiO 2024: Artemotion (Colômbia); Centro Nacional de Artes (Colômbia); Ciclo de Estudos de História do Circo (Brasil, América Latina); Está Acontecendo (América Latina).

Trabalhos citados

ACAPS. “Colombia-Panama Border. Migration crisis.” https://reliefweb.int/report/panama/acaps-thematic-report-colombia-panama-bordermmigration-crisis-03-november-2022.

Connell, Raewyn. Southern Theory: The global dynamics of knowledge in social science. Routledge, 2020.

Gaztambide-Fernández, Rubén. “Decolonization and the pedagogy of solidarity.”
Decolonization: Indigeneity, Education and Society, vol. 1, no. 1, 2012, pp. 41-67

Migración Colombia. “Más de un millón setecientos setenta y un mil venezolanos están radicados en Colombia,” 27 Februray, 2020. https://migracioncolombia.gov.co/noticias/mas-de-un-millon-setecientos-setenta-y-un-mil-venezolanos-estan-radicados-en-colombia-migracion-colombia.

Mirzoeff, Nicholas. “Preface: Devisualize.” The Aesthetics of Global Protest. Visual Culture and Communication, edited by Aidan McGarry, Itir Erhart, Hande Eslen-Ziya, Olu Jenzen, and Umut Korkut, Amsterdam University Press, 2020, pp. 11-14.

Pinochet-Cobos, Carla. “Disrupting normalcy. Artistic interventions and political mobilisation against the neoliberal city.” Social Identities, vol. 27, no. 5, 2021, pp. 538-554.

Sorzano, Olga Lucia. “Is Social Circus the ‘Other’ of Professional Circus?” Performance Matters, vol. 4, nos. 1-2, 2018, pp. 116-133. 

—. “Colombia’s Cultural Explosion: Vivir Sabroso and Ollas Communitarias as Pedagogies of Solidarity.” Educational Studies, 2022, https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00131946.2022.2132395. Accessed 4 Dec. 2022. 

Turkewitz, Julie. “Colombia Makes ‘Historic’ Decision to Grant Legal Status to 1.7 Million Venezuelan Migrants.” New York Times, 8 Feb 2021, https://www.nytimes.com/2021/02/08/world/americas/colombia-venezuela-migrants-duque.html